quinta-feira, 24 de setembro de 2009

A paixão e a arte

"As artes são representações do real, não são o real: mas, que real é este que elas representam? Existem artes, como a música, que organizam o som e o silêncio, no tempo. Existem artes, como a pintura, que organizam a forma e a cor, no espaço. E existem artes, como o teatro, que organizam ações humanas, no espaço e tempo.
Se nisto consiste a Arte - na organização e na representação do real - e se o teatro representa ações humanas, quais destas ações serão dignas de representação teatral?
Evidentemente, só aquelas nas quais os seres humanos revelam suas paixões. Lope de Vega, escritor espanhol do Século de Ouro, costumava dizer que o essencial ao teatro são dois atores, um tablado e... uma paixão.
Mas... o que é a Paixão? A Paixão como a Arte, pode ser definida de muitas maneiras; eu prefiro dizer que a paixão é cada um dos sentimentos extremos dos quais o ser humano é capaz. O amor e o ódio, a buscade um ideal e a solidariedade fraterna, a curiosidade científica e a realização esportiva podem ser paixões, se forem extremos. O artista, quando o é de verdade, é um apaixonado.
É preciso reabilitar a Paixão, restaurar seu sentido primeiro de força vital, danificado pela semântica que faz da palavra grega pathos a origem de paixão e patologia.
Paixão não é sofrimento, não é doença: é vida!"

Texto tirado do livro "O teatro como arte marcial" de Augusto Boal.

Nenhum comentário:

Postar um comentário